É lei biológica para todas as espécies: o indivíduo nasce, cresce, reproduz-se e morre. Nesse processo, o grande objetivo natural é a perpetuação das espécies. Ao nascer, planta ou animal, o indivíduo é lançado no grande torvelinho da vida. No seu processo de crescimento aperfeiçoa-se como unidade e prepara-se para o grande objetivo de sua existência natural, que é a sua reprodução. Ao gerar novos indivíduos, transfere-lhes sua memória genética e toda a evolução alcançada por sua espécie. Depois de cumprido o período fértil, aguarda e acolhe a morte como epílogo de sua frutífera existência.
Um dia notei que um inseto, a chamada "broca", atacou uma jovem bergamoteira que eu cultivava no pátio de minha casa de praia. O estrago foi grande, pois houve várias perfurações ao redor da base do pequeno tronco. Fiz a assepsia possível e passei a cuidar com muito carinho da pequena árvore. Alguns meses se passaram e percebi que ela travava uma luta imensa para manter-se viva. Outras irmãs suas, de mesma idade, porém saudáveis, apenas preocupavam-se em crescer, posto que ainda demoraria seu tempo de oferecer flores e frutos. Veio a primavera e a pequena bergamoteira floresceu abundantemente. Ao vê-la florida fui tomado de forte emoção, nem tanto pela beleza que ela ostentava, mas porque vi ali, claramente, o cumprimento da lei da vida: ela tomara consciência da morte iminente e precisou, com urgência, reproduzir-se. Formaram-se então pequenos frutos que teimaram em crescer, mas, no outono, a bergamoteira, exauridas suas energias, secou e com profunda tristeza, tive que abatê-la.
Meditei então sobre a prioridade que a Natureza dá à perpetuação das espécies e ocorreram-me, entre tantos, outros prosaicos exemplos que vemos no cotidiano. Ao "surrarmos" o tronco do abacateiro para que produza mais frutos estamos induzindo-o a "sentir" que poderá ser abatido e isso o estimula a reproduzir-se com vigor, tudo para que sua espécie seja preservada. Quando remexo um formigueiro, as operárias freneticamente acorrem a salvar os ovos, antes de tentarem safar-se a si próprias. As abelhas defendem sua colméia atacando o agressor com seu ferrão, mesmo que isso lhes custe a própria vida. Tanto os ovos das formigas, como a colméia representam a continuação da vida de cada grupo. O processo de poda é, na verdade, uma agressão controlada que faz a planta sentir-se ameaçada, providenciando abundância na produção de frutos, com vistas a conservar sua espécie.
Ora, companheiros, somos seres vivos, e, de quebra, temos como vantagem a grande graça da razão. A lei da vida, portanto, cumpre-se também conosco. É fácil observar que em nosso Clube, como também em grande número de clubes coirmãos, a maioria das pessoas já superou a terceira fase, a da reprodução, dessa inexorável lei natural, restando, então, aguardar a quarta e derradeira etapa.
Podemos inferir que, como leões, somos indivíduos pertencentes a uma espécie, o leonismo, que nos congrega em torno de nosso Clube. Nascemos para o Lions quando ingressamos no Clube e nele crescemos aprendendo leonismo e desfrutando companheirismo. É nossa responsabilidade, portanto, reproduzirmo-nos, apadrinhando novos companheiros. Só depois de garantirmos a continuidade da vida do Clube é que ser-nos-á lícito aguardar tranqüilos o inevitável ocaso de cada um.
Em nosso Clube a média aproximada das idades dos companheiros está em 65 anos. Isso remete a uma realidade cruel e incontestável: se não houver em breve uma vigorosa renovação no quadro de associados em alguns anos teremos a extinção do Lions Clube Florianópolis - Estreito.
Como está nosso senso leonístico de preservação em relação ao Clube a que pertencemos? As ameaçadoras circunstâncias farão florescer e frutificar, urgente e abundantemente, a frondosa árvore que é cada um de nós?